Banda norte-americana, já em seu quarto álbum de estúdio, o Jack O’ the Clock desponta como um dos grandes nomes do rock progressivo atual. Com influências voltadas para movimentos mais excêntricos e segregados do nicho, como o Rock in Opposition (RIO) e o avant-prog, o grupo também incorpora, junto à estrutura melódico-estranha das bandas da cena, todo o aspecto popular dos grupos mais conhecidos e emergentes do neo-prog, criando assim um enlace harmônico entre essas vertentes, de um modo que a distancie e deixe quase que imperceptível a similaridade com as bandas de hoje em dia; essas que, ou descambam para o experimentalismo gratuito e exibicionista, ou para o seu completo oposto popular – repetindo-se gradativamente. No primeiro caso, temos uma sisudez cada vez mais chata e insignificante, algo que tem ocorrido até mesmo com grandes nomes do gênero, como o Univers zéro, que, esse ano, nos entregou o decepcionante Phosphorescent Dreams, um disco repleto de cacoetes estilísticos, uma masturbação de trejeitos semelhante ao que os estandartes do neofolk tem igualmente cometido atualmente, coisa que bandas recentes, tanto de neofolk, quanto de rock progressivo, tem diluído de um modo substancial e qualitativo.
Bandas novas, a exemplo do pessoal do Jack O’ the Clock, que, junto a essa gama contemporânea do rock progressivo, vem fazendo uma enorme subversão de preceitos anteriormente prevalecente no gênero, desvencilhando-se aos poucos de uma proposta cada vez mais lúcida e distinta desse avant-garde, ironicamente, estagnado no tempo. No campo oposto à vaidade da música de vanguarda e do seu semblante bobo de sobriedade, na outra face da mesma moeda, no mais puro pop-prog repleto de clichês da geração pós-The Wall, que canoniza Roger Waters e sua magniloquência musical, Night Loops faz todos esses aspectos, aparentemente díspares esteticamente, desmoronarem ao se encontrar em concórdia um tanto curiosa e, mais do que isso, uma notabilidade sintônica inquestionável e pouco vista, algo que é substancialmente presente nesse álbum dos californianos. Aqui, os excessos inexistem, em ambas as partes, da extravagância à convencionalidade pop, de um disco que sintetiza esses extremos em um conteúdo muito maior, de valor até mesmo superior aos seus mentores, que em sua maioria ainda sofre com o peso que o tempo entrega.
Passeando do semi funk rock da excelente Bethlehem Watcher, aos momentos mais característicos do avant-prog que rodeiam praticamente quase que todo o novo disco da banda, Night Loops, em suas entoadas anômalas de jazz desfigurado e instigante, nos ritmos martelares que contrasteiam com os lapsos de folk progressivo que deslizam suavemente entre as faixas do álbum, acaba reinando indômito em sua magnitude, pungente em uma perspectiva própria do rock progressivo, do novo e próspero rock progressivo. Em seu quase desfecho, na antepenúltima faixa do álbum, somos incorporados em uma liturgia transcendental, utilizando-se de um canto hipnótico tribal-jazz fusion de pano de fundo, o lirismo é bíblico, transcreve uma passagem do livro de Gênesis, como um rito, uma antecipação que nos prepara para o gracioso afago de seu epílogo. Pois a passagem surge como uma despedida não só do disco, mas um desfecho junto à consagração do que na realidade trata-se do melhor álbum da banda e um dos melhores discos de 2014. Já a imortalidade da obra, bem… essa somente o tempo dirá.
“As long as the earth lasts, there will always be a time to plant and a time to gather the crops. As long as the earth lasts, there will always be cold and heat. There will always be summer and winter, day and night.” – Genesis, 8:22
Ficha
Artista: Jack O’ the Clock
Ano: 2014
Álbum: Night Loops
Gênero: Avant-prog
Origem: EUA
Onde escutar: Bandcamp
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